domingo, 3 de novembro de 2013

Sem razão de ser





Enquanto dois mais dois forem quatro, tudo bem!

Nada se ganha, nada se perde...discutível o efeito do "tudo se transforma". Quando se pensa que por vezes se tem uma mão cheia de certezas, lá vem a outra mão e, em movimentos de aquecimento, aplauso, violência ou marcação rítmica, perde-se o equilíbrio, compromete-se a homeostasia. Ousando reformular: nada é certo, nada é incerto, tudo se questiona.

Certezas e incertezas são alvo (ou fruto?) da razão. Coisa esta da razão que já foi mais objetiva (não já?) e esteve mais presente - pudera eu e abdicaria da minha que me prende os atacadores enquanto tento caminhar. Não me vejo maior força de atrito. Bem tento trocar de calçado, uso chinelos, mas esta força de atrito superioriza-se ao recurso para adornar os membros inferiores.

Em tudo na vida, e a razão não é exceção, deve haver conta peso e medida. Haja razão q.b. e o mundo promete avançar. Mais devagar? Menos precipitado? Certamente mais equilibrado, talvez mais na perspectiva: tem-te não caias.

Já me "queixei" da minha razão, mas também convivo mal (convive-se?) com a ausência da razão. Culpa-se por vezes a alteração anatómica que coloca o órgão cardial perto do local onde se verbalizam, por vezes, discursos e decisões de ponderação duvidosa e sumo pouco natural, independentemente da assertividade da forma em detrimento do conteúdo.

Receitas? Não é que não hajam, mas eu não sou autor de nenhuma, nem "as passo", mas ouvi esta instrução de bênção (de Vinicius), que com verdades de fazer corar apenas o mais distraído embala enquanto se põe a razão na prateleira lá de cima, mas à vista, ao nível dos olhos...tudo bem, dois mais dois são quatro...ainda!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Mudar...



Mudar...

O ditado diz que quem muda, Deus ajuda. Se o divino auxilia, não dependerá esta prestação de serviços de mudanças...senão as empresas de mudanças mandavam no mundo!

Isto de mudar, ou mudar-se, nem sempre implica noção se é o momento ideal, o timming.. já? Depois? Quando? Outra vez? Do destino, da necessidade ou implicações inerentes, do destino...nem mesmo do rumo (nota-se aqui a ausência de sequência lógica, mas explana-se o deambular da dúvida).

O mundo não muda, a europa não muda, o país não muda...muitos dizem que mudança precisa-se! Se eu preciso? "isso são outros quinhentos"...

Ora bem, há também outro ditado (?) que diz que não há que mudar quando tudo está bem. Pois, aqui então é que a subjectividade pode atingir os píncaros, a sua mais alta cotação. 

A relatividade, a incerteza...tudo se conjuga, balançam-se os dados e sai sempre um número ímpar. É uma mudança muda...

Finde-se esta publicação com uma citação da página número 108 do livro que estou a ler e que motivou esta pequena "discussão":

Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, desloca-mo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões. Outras vezes uma palavra é quanto basta.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Letras




Há aqueles momentos em que as letras impregnam o ar, são inaladas e, alterando-se toda a anatomia do aparelho respiratório, navegam por axónios, dendrites… o magnetismo estabelece-se e elas não descolam, ficam grudadas entre o pensamento e a fala.
 
Não era de ficar com uma discussão adiada, ou apeada no meio do trajeto, mas depois de ter interiorizado que se as palavras são de prata e o silêncio de ouro, passei a incluir o silêncio nas conversas. Assim ouve-se e fala-se muito mais.
 
Lá diz o grande Jorge que há momentos em que se faz luz e depois regressa-se à escuridão…e é a esta letra que me refiro no início desta publicação. Podiam ser letras de um poema, mas a música dá alma às letras, embala-as, ajuda-as a ressoar nos ouvidos, a harmoniosamente entrarem no cérebro.
 
Pegue por onde pegar esta letra dá-me que falar (sem ser pretensioso acabei de rimar). Não sou naturalmente do contra, só o faço às vezes (talvez mais vezes que a grande maioria das pessoas), mas não sei até que ponto isso faz de mim uma pessoa do contra. Penso, repenso, volto a pensar e lá estou eu até, muitas vezes, a corrigir-me, a alterar-me…não a desdizer-me, mas a completar, a adequar, a colocar a expressão “nos eixos”.
 
E a música que não sai, não desaparece. Tomei-lhe o gosto, o paladar suave, a textura, o sabor que se mantém, que se prolonga no tempo, que sacia. Não dá “duas voltas ao estômago” e também aqui o processo contraria a anatomia e as letras (não as da sopa, mas as da música) sobem, vão para o local onde se as ideias vivem, convivem e sobrevivem.
 
Já tenho as letras a assolarem-me o sistema circulatório…isto é, de todo, algo sistémico, orgânico.
 
Fez-se luz? Voltei à escuridão? “fico a pensar nos porquês”.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

(Em) Construção




Como estou? Vai-se construindo.

Construção, edificação, constantes aperfeiçoamentos (remendos?) da vida.

O blog está em construção, estou em construção…

Lá estou (eu, claro) nos meus momentos de cogitação e respetiva verbalização de voláteis ideias resultantes de teorias muito solúveis – apesar de em algumas vezes a solução ser imiscível.

Esta música, de tão rica que é, conseguiu o efeito de me “matraquear” as sinopses, dentrites…toda a estrutura dos neurónios (ainda) activos e, por isso, declaro-me em construção. Aliás, isto sempre me pareceu óbvio, mas acho que neste momento se tornou mais claro.

As palavras de Chico Buarque “que me perdoem”, mas ganham outra “luz” na voz da Cristina Branco.

Este opíparo poema dificulta-me a sua divisão e escolhe de uma porção porque são vários os excertos que me parecem ter tanto significado:  “Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/Tijolo com tijolo num desenho mágico/Seus olhos embotados de cimento e lágrima” – como a vida se constrói sólida, com desenhos de futuros sonhados e que tantas ou raras vezes (consoante o coeficiente de realização) culminam ou convivem com olhos embotados, toldados com nevoeiro matinal que encobre o sol e encobre as nuvens do espelho da alma…

Pouco mais vou dizer, deixo as palavras do poeta:

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

O que é lógico, o que é sonho, o que é mágico…tudo muda, tudo se constrói mas nem sempre no sentido lógico, mágico, prático, físico, lúdico… Há que continuar a crescer, a se “auto-construir” com a filosofia do desenvolvimento sustentável, sem manuais, sem instruções...

Não encontrei a música no youtube ou afins... 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Visão periférica





A visão é importante, até aqui tenho 100% de certezas. Dizem que a visão piora com a idade, e acho até que isso não se refere só à componente “biológica” do sentido.

Quando pequenos vemos o que queremos e imaginamos o que queremos ver, mais tarde acabamos por conseguir ver o que não queríamos ver e podemos não ver o que queríamos ver. Cresce-se e a vontade de imaginar fica inversamente proporcional à capacidade de o fazer.

A ciência e a arte desenvolveram tecnologias e intervenções para ultrapassar certas dificuldades, podendo até fazer melhorar consideravelmente a visão, mas não lhe dão o gosto (sim, refiro-me ao paladar) das visões de outrora. Os azuis, os verdes, os amarelos eram outros, o sabor adocicado perde-se, torna-se mais cru, torna-se mais salgado ou, então insípido! Tal como o poeta Gedeão (e que me seja perdoada a ousadia) falo de sal quando falo dos olhos, mas noutra vertente.

A necessidade de escrever sobre isto adveio da audição, ou repetição da audição mas com olhos de ver (voltou a miscigenação de sentidos) foi o (já habitual aqui) Tê. Quem a não ser ele poderia ver e explicar as estrelas desta forma. São ou não pequenos astros como pontinhos cintilantes no céu? Em versão Tê, o seu céu soa diferente e tem “multisabores”!


A Explicação Das Estrelas

O coração das estrelas
Arde no peito do céu
São biliões de velas
Em ermidas e capelas
Que alguem um dia acendeu
Uns dizem que foi Deus
Que acordou para ver as horas
Numa noite de Janeiro
E ligou um candeeiro
De estrelas e auroras
Ursas cisnes e leões
Sírios centauros e dragões
Fazem as constelações
Outros dizem que a matéria
Estava presa no nada
E explodiu num big bang
Espalhou-se como sangue
E fez a noite constelada
Mas há outra explicação
Que não é menos exacta
As estrelas são avós
Vogando em trenós de prata
Lá em cima a velar por nós



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Acordar já?!




Acordar nunca é um procedimento fácil, sendo algumas vezes custoso e, noutras, tenebroso!

Abandonar o mundo de Morpheu não tem procedimento simplificado e um nevoeiro parece toldar a visão e o raciocínio quando as horas de inércia físico-cognitiva são inferiores ao habitual e/ou ao recomendado.

Mas, hoje, proponho-me a falar a pensar num acordar que vai além do levantar de cabeça da almofada e de abandonar o conforto têxtil que acomoda o descanso.  Hoje penso sobre um acordar mais coletivo, mais integrado.

Esta semana “acordei” para uma música de origem Massena cuja voz me tinha ficado na “retina auditiva” há uns “CD’s” atrás. Um acordar de inércias acordadas, de conformismo mais ou menos conforme o que está modelado para a sociedade de hoje!

Importa decidir o que fazer:  dormir, adormecer ou acordar...esperar que o despertador toque pode ser o suficiente para que o despertador seja deslocalizado durante uma “noite de sono” ou de “cochilamento”. 

Oxalá haja café, muito e do bom!


Acorda,
o teu ombro já não espera
e traduz essa palavra
que me olha…

E é assim que o povo resiste
É lutando que a vida insiste

Sono, sem sonho
Medo, sem coragem
Somos barco à vela
Livres na viagem….

E é assim que o povo resiste
É lutando que a vida insiste

E é gritando sobre o asfalto
Que a nossa voz fala mais alto!

(instrumental)
E é assim que o povo resiste
É lutando que a vida insiste

E é gritando sobre o asfalto
Que a nossa voz fala mais alto!

Acorda,
o teu ombro já não espera
e traduz essa palavra
que me olha…