sexta-feira, 1 de abril de 2016

Com a noite vem o silêncio…








É certo que a noite é pródiga em muita coisa, ou pode sê-lo. Não é o livre-arbítrio que a define, alimenta, consubstancia. A noite (normalmente) resulta do dia, mas complementa-o…se bem que as vezes também o “subtrai”.

A noite encurta espaços e tanto acomoda como incomoda, tal como o silêncio.

Na noite da tecnologia a luz do ecrã brilha mais, as luzes brilham mais e o céu eclipsa-se…a noite perde a sua essência, escura, negra, calma…as ausências perdem-se e sobra a imaginação de ver o luar, o mar, ou, quando a noite é de imaginação tão fértil que confunde os sentidos, a imaginação traz-nos o luar espelhado no mar.

Na noite o incerto parece tornar-se certo, mas só a luz do dia permitirá ver se realmente ocorreu tal transformação ou se tudo se mantém.

A noite por vezes tem mangas compridas, é uma noite de inverno que começa cedo e acaba tardiamente, que se arrasta, como que puxada e com as unhas cravadas no chão…

A noite, a noite também cria, a noite tem destas coisas. É tempo de escrita, de pensamentos soltos e sem destino, de balanço dos “haveres diários”, de preocupações, de expectativas que por vezes só ficam em pausa quando o movimento cíclico das pálpebras se torna mais lento e compassado com o ritmo respiratório…

A noite anoitece pela noite dentro, como que vai anoitecendo – mas sem pôr-do-sol. Vai-se adensando, tomando conta de nós como que se fosse um abraço de Morpheu.

A noite, tal como o sol, também pode ir “alta”, talvez porque vai carregada do dia anterior e resolva se sentar em cima dele. A noite, de facto, confere-nos alguma altura, alguma capacidade de visão periférica, mas tolda o discernimento.

A noite é o tempo de ouvir o ponteiro dos segundos, é o tempo de ouvir o vento, é o tempo de ouvir a chuva e os carros na estrada molhada…é o tempo de ouvir o silêncio.