segunda-feira, 17 de junho de 2013

Letras




Há aqueles momentos em que as letras impregnam o ar, são inaladas e, alterando-se toda a anatomia do aparelho respiratório, navegam por axónios, dendrites… o magnetismo estabelece-se e elas não descolam, ficam grudadas entre o pensamento e a fala.
 
Não era de ficar com uma discussão adiada, ou apeada no meio do trajeto, mas depois de ter interiorizado que se as palavras são de prata e o silêncio de ouro, passei a incluir o silêncio nas conversas. Assim ouve-se e fala-se muito mais.
 
Lá diz o grande Jorge que há momentos em que se faz luz e depois regressa-se à escuridão…e é a esta letra que me refiro no início desta publicação. Podiam ser letras de um poema, mas a música dá alma às letras, embala-as, ajuda-as a ressoar nos ouvidos, a harmoniosamente entrarem no cérebro.
 
Pegue por onde pegar esta letra dá-me que falar (sem ser pretensioso acabei de rimar). Não sou naturalmente do contra, só o faço às vezes (talvez mais vezes que a grande maioria das pessoas), mas não sei até que ponto isso faz de mim uma pessoa do contra. Penso, repenso, volto a pensar e lá estou eu até, muitas vezes, a corrigir-me, a alterar-me…não a desdizer-me, mas a completar, a adequar, a colocar a expressão “nos eixos”.
 
E a música que não sai, não desaparece. Tomei-lhe o gosto, o paladar suave, a textura, o sabor que se mantém, que se prolonga no tempo, que sacia. Não dá “duas voltas ao estômago” e também aqui o processo contraria a anatomia e as letras (não as da sopa, mas as da música) sobem, vão para o local onde se as ideias vivem, convivem e sobrevivem.
 
Já tenho as letras a assolarem-me o sistema circulatório…isto é, de todo, algo sistémico, orgânico.
 
Fez-se luz? Voltei à escuridão? “fico a pensar nos porquês”.