sábado, 31 de dezembro de 2016

De circadiano a circadiano


Nesta que é uma tentativa de equilíbrio do tempo, entre balanços e previsões, as recordações tentam vir até ao presente para se misturarem com ele e com o que está vir.

Qualquer pessoa, com o mínimo de tempo e silêncio necessários para o “bem pensar” (ou conformando-se com o “pensando bem”) consegue saber o que não pretende que se repita, e auspiciar para o ano vindouro, provavelmente, tudo que lhe esteja no mínimo nos antípodas.


Tenho uma noção do que gostaria que se concretizasse no ano que está prestes a iniciar, mas na essência quero ter o engenho e arte para alimentar a vontade de fazer mais, fazer melhor e quiçá fazer diferente.


Diz o poeta, e o meu avô pelos vistos fazia-lhe citações frequentes, “mata o passado e sorri”, prometo tentar fazê-lo na medida em que não queira que o esquecimento me liberte de um ou outro passado… assim tipo um esquecimento selectivo, semelhante com o que da capacidade que pretendo possuir relativamente ao aparelho auditivo, mas as vontades também as leva o vento.


Em término, não só do ano mas como desta publicação, vou “automentalizar-me”, insistir na reciprocidade e ir reunindo aos meus amigos.

 
“Circadiando” neste peculiar mundo redondo com tantos cantinhos agradáveis…

domingo, 9 de outubro de 2016

Nem pensar





Escrever é, para mim, um “tic tac” porque o faço no teclado. Nem sempre consigo sentir que há esta simbiose que não materializa o pensamento, mas dá-lhe alguma densidade porque não consegue dar-lhe corpo.

Quando as mãos passam em simultâneo (e a seco) pelo rosto e seguem para a cabeça é porque entre as acostumadas cogitações não existe o necessário espaço de acomodação e há como que uma tentativa de encaixar peças redondas em quadradas, triangulares e outras de formas irregulares.

No que se pensa não se manda, nem se escolhe e… não me tem apetecido pensar. É como que um cansaço de pensar, uma descrença que “valha a pena” que faz balancear e trazer à tona a autocrítica ao ponto de tornar periclitante a capacidade de discernir a utilidade do pensamento. 

Ânimo, desânimo, suspiros e desassossego com data aleatória de início com terapêutica incerta. Futuro igual a inequação sem fórmula resolvente, apenas o formulador de grande parte dos problemas e sem vontade (capacidade) de resolução.




sexta-feira, 1 de abril de 2016

Com a noite vem o silêncio…








É certo que a noite é pródiga em muita coisa, ou pode sê-lo. Não é o livre-arbítrio que a define, alimenta, consubstancia. A noite (normalmente) resulta do dia, mas complementa-o…se bem que as vezes também o “subtrai”.

A noite encurta espaços e tanto acomoda como incomoda, tal como o silêncio.

Na noite da tecnologia a luz do ecrã brilha mais, as luzes brilham mais e o céu eclipsa-se…a noite perde a sua essência, escura, negra, calma…as ausências perdem-se e sobra a imaginação de ver o luar, o mar, ou, quando a noite é de imaginação tão fértil que confunde os sentidos, a imaginação traz-nos o luar espelhado no mar.

Na noite o incerto parece tornar-se certo, mas só a luz do dia permitirá ver se realmente ocorreu tal transformação ou se tudo se mantém.

A noite por vezes tem mangas compridas, é uma noite de inverno que começa cedo e acaba tardiamente, que se arrasta, como que puxada e com as unhas cravadas no chão…

A noite, a noite também cria, a noite tem destas coisas. É tempo de escrita, de pensamentos soltos e sem destino, de balanço dos “haveres diários”, de preocupações, de expectativas que por vezes só ficam em pausa quando o movimento cíclico das pálpebras se torna mais lento e compassado com o ritmo respiratório…

A noite anoitece pela noite dentro, como que vai anoitecendo – mas sem pôr-do-sol. Vai-se adensando, tomando conta de nós como que se fosse um abraço de Morpheu.

A noite, tal como o sol, também pode ir “alta”, talvez porque vai carregada do dia anterior e resolva se sentar em cima dele. A noite, de facto, confere-nos alguma altura, alguma capacidade de visão periférica, mas tolda o discernimento.

A noite é o tempo de ouvir o ponteiro dos segundos, é o tempo de ouvir o vento, é o tempo de ouvir a chuva e os carros na estrada molhada…é o tempo de ouvir o silêncio.