terça-feira, 30 de março de 2010

Vida




Entre o “ai vida, vida…” e o “ai a minha vida a andar para trás”, fica o “que vida” e tudo se poderá resumir dizendo que “a vida está pela hora da morte”. Esta última expressão poderá ser controversa, estranha. Diria mesmo que é uma frase “alternativa” porque não diz nem sim nem não, antes pelo contrário e vice-versa. Como já se depreende, ando com as ideias muito organizadas.


Não sei se o facto de abordar esta temática se prende por ter revivido o êxito “Esta vida de marinheiro”, mas não duvido que o talento do artista não tenha a sua cota parte de responsabilidade.

Um poeta de excepção (devidamente musicado) diz que “a vida é como uma corda/de tristeza e de alegria/que saltamos a correr/pé em baixo, pé em cima até morrer/Não convém esticá-la/nem que fique muito solta/bamba é a conta certa…”. Há alturas em que apertamos demasiado com a vida, arriscamos, vivemos no limite, ansiamos por mais e mais…outras há em que a vida parece que está quase a dar o “tilt” e afinal todo este viver (ou sobre-viver) não passa de uma série de acrobacias num trapézio sem rede.

Da vida muito se poderia dizer. Tem fases preenchidas, tem fases vazias…fases em que se precisa de espaço, outras em que nos sentimos asfixiados. Há momentos intermináveis e infindáveis instantes…quase que são como o mar, em que “há ir e voltar”, como que aquele movimento vaivém das ondas…agora que penso nisto parece-me uma metáfora bastante plausível…a vida como o mar (lá vai para segundo plano a ideia da corda bamba). A vida é ou não cíclica? A minha parece ser… A vida traz vida, dá vida, tira a vida… é monótona e agitada. Tem marés altas e baixas (e marés negras…). Ah, como sabia bem agora um zéfiro com maresia acompanhado de um ruidoso silêncio revigorante marinho… Bem, a distância apenas me permite o ensurdecedor murmurar da serra. Vou pensar no que irei perguntar “ao vento que (aqui) passa”.



terça-feira, 2 de março de 2010

Eu hoje



Aaaah, novamente a página em branco. Há ideias, disso tenho a certeza. Elas são como cogumelos, aparecem “do nada”, crescem furtivamente e algumas há que, pelas suas características, envenenam o meu bem-estar. Creio que ultimamente as minhas ideias enraizaram, foram ao mais profundo do “eu”, impregnaram bem a matriz do meu ser e alimentam-se em locais onde outrora não existia actividade cognitiva consistente.

As ideias são difusas, o futuro incerto e as vontades atropelam racionalidades e fazem emergir as subtilezas do ser.

Aquele passado que me construiu, tem ruido, como se os alicerces tivessem sido “co-roídos”. São vários os roedores e algumas as “ratoeiras” com que nos deparamos na vida, mas há algumas em que parece que não conseguimos escapar, ou não somos suficientemente ardilosos para não ceder perante o isco. Damos votos de confiança, compreendemos, aceitamos, enganamo-nos, viabilizamos, damos benefício da dúvida, desacreditamos…maldita burrice cíclica e sentimentalismo míope.

Não consigo entender porque é que ciclicamente encontro pessoas “iguais” e me deixo acreditar uma vez mais. Afinal também se vive sem aquela pessoa que julgamos tão interessante e original, até porque se essa pessoa não se tivesse eclipsado, não teríamos visto essas mesmas características (acrescidas de outras) em outras pessoas. Mas, a ilusão é perene e emergem os factores que nos devolvem o eterno deja-vu.

Poucas são as pessoas que (ainda) trago comigo. Felizmente tenho conseguido arejar as minhas carruagens, substituir passageiros, eliminar intrusos (ou “intrujos”), rastrear os restantes companheiros de viagem e condicionar o acesso. Falso modesto? Empertigado? Envaidecido? Prefiro precavido, previdente, cansado de doses excessivas de “boa-fé”. Estou em mutação. Já me “acusaram” de estar diferente, não desminto. Estou menos “eu”. Estou à procura de outro “eu” que conserve algum do passado, que analise melhor o presente e que tenha um amanhã em que, apesar de a chuva imperar e o frio penetrar pelos poros, seja cumprimentado por uma tonalidade clara no firmamento.