terça-feira, 17 de novembro de 2015

Um dia






Um dia destes, não é um destes dias. Pode parecer a mesma coisa, mas não o é de facto. A essência é outra. É mesmo! Completamente outra, bem mais do que há dias assim.


A cabeça está cheia, as ideias saltam de hemisfério em hemisfério, umas empurram as outras para baixo… e não são necessariamente as mais fracas que ficam por baixo, talvez sejam as mais certas porque ficam presas entre os vértices das mais irregulares, mas se assim for não consigo explicar porque é que as ideias mais densas ficam à superfície…


Nestes dias há um bem precioso que tenta resistir como pode numa panela esquecida ao lume, a água ferve, borbulha, evapora e não resiste ao esquecimento térmico, desidrata e fica como que em pó, um “derivado de”, digamos que existe (ou subsiste) um sucedâneo de paciência.


O ar teima em entrar nos pulmões…teimar pode não ser bem o termo mais adequado, porque por vezes o ar é empurrado com a força de um suspiro, sim do suspiro. A respiração também se pode assemelhar ao movimento das ondas no mar: aquele momento em que a expiração é mais sonora e prolongada equivale ao rebentar da onda que em simultâneo origina uma onda nova, por vezes no sentido contrário. Lembro-me agora de comparar aquele instante em que a onda atinge o seu ponto máximo com o intervalo entre a inspiração e a expiração (mais exuberante e quiçá asfixiante quando balançada ao pela métrica do suspiro).


O texto hoje vai volátil, não adianta. Bem tento explicar-me, bem tento compreender-me…acho que me vou ficar entre o “não adianta” e o “não concordo”. Não sei bem com o quê, com quem…nem sei bem o porquê destas reticências - talvez até saiba, mas para quê escrever? Bem vistas as coisas: pensar, ter paciência ou respirar podem fazer todo ou nenhum sentido. Junto ou separado, proporcionalmente ou inversamente proporcional.


O gongo toca. É chegado o momento do cursor deixar de piscar, de existir e deixar de o ser, o texto não vai lá das canetas e o fundo branco não é papel, é redundantemente um “volátil software”…




terça-feira, 27 de outubro de 2015

Porquê por que porque





Às vezes pergunto, que mais que hei-de eu fazer… Não que sinta que fiz tudo ou que não me falta fazer nada. Acho que é mais porque o “fazer” está tão próximo do “não fazer”, como a inspiração está da expiração – apenas separado por um hiato de tempo como que suspenso à espera de um bocejo, um suspiro ou um regular exalar de dióxido de carbono. Tanto se dá, como se deu…e às vezes só sei que “se deu”, porque o ar continua a seguir o seu rumo, a serem asseguradas as necessárias trocas gasosas.


Há momentos em que o “porque sim” não chega (não bate certo), mas noutros em que basta e quase sobra. Já diz “o outro” que entre o deve e o haver sempre pões algum de lado, mas nem sempre é “resto zero, nada”, nem mesmo dos pequenos “nadas” com que se faz um bocadinho de tudo.


Não sei se quero fazer, se quero querer fazer, o que fazer ou para que fazê-lo. É o caos? É a mutação?  


Sóbrio da vontade, ébrio do marasmo ou vice-versa?


Próximo, espero eu, do que me distancia, mas longe da certeza, afastado do que me trouxe aqui, arredado de uma solução e aquém das auto-expectativas… Eis-me a mais comigo mesmo, excedentário do self, marginal da névoa vindoura. Na dúvida do “para que sou”, nem as circunstâncias parecem válidas.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Caminhos







São para ir percorrendo é certo e imperativo! De forma rápida ou lenta, alegre ou desanimada… há pessoas que dizem que no mesmo se encontram pedras para serem recolhidas tendo em vista a construção de um castelo…


Há quem diga que os caminhos (da vida) são finitos e irrepetíveis, como que um segmento de recta. Mas então, como se explicam os deja vu? Não se explicam, vivenciam-se…ou melhor, “revivenciam-se”.


Há que, pelo caminho, recolher vontades, alentos… como uma criança que se baixa para apanhar uma flor que cresce na beira do caminho que pode parecer insignificante para quem acompanha a caminhada, que segue na sua própria passada paralela.

O que se segue? Como se segue?


O passo segue numa síncope entre compassos, entre tempos, entre gentes, entre dias ensolarados e fins de tarde sombrios, entre flores na berma e calhaus a que se dá um chuto e a pedra salta, bate, ressalta uma e duas vezes até parar e esperar mais um chuto para seguir o seu… caminho

Outrora "sem rumo nem Norte, sem rima nem mote..."

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

(Num) Nó







Nó na garganta, nó cego, nó dos dedos, de gravata, da madeira… mente a divagar a muitos nós, entre caminhos meus e outros alheios ao meu conhecimento e vontade. Os pensamentos como que estão a deriva, a boiar num líquido denso, heterogéneo, por vezes transparente mas essencialmente turvo, “sem rumo nem Norte, sem rima nem mote…vão indo”.


Permanece aquela sensação que algo me prende aqui, ou ali. Nada de claro. Talvez um nó de uma corda comprida, de fios entrelaçados, não sei bem – não a vejo, mas às vezes sinto: “estás preso”! A corda estica, como o ar gélido que estala ao tocar a superfície da pele, e o deambular esmorece, o aleatório ganha rumo ou fica estático até ao próximo balançar da solução aquosa deste aquário sem paredes, sem vidros, sem pedras, sem peixes…


Por vezes este nó transforma-se, ganha leveza (e cor?), como que a corda se transforma em fita, e a crueza áspera acaba por se metamorfosear num volátil laço.


Nó de ideias, nó de existências, nó de previsões…turbilhão de dúvidas, conceitos, incertezas, factos, hesitações, vontades, indecisões e outros sinónimos intercalados com factos, ou factores.


Estique-se a corda. O nó aperta. Quanto à corda…