A noite traz o silêncio? Não, assossega o movimento físico
mas desassossega “o outro”.
À cabeça voltam as metáforas, as confusões… as hipérboles ficam-se
a meio. Estas só se refletem pela manhã, porque a reflexão noturna não devolve
a sua essência, fica como que pousadas na areia da maré vaza à espera de uma
outra vaga, das matinais, para que seja espelhada e contemplada.
Parece que há um nada que se tenta preencher por outro nada,
enquanto sobra pouco mais que nada para ocupar o vazio. Não é como que a areia
a fugir entre os dedos, porque a dúvida faz com que nem a certeza do contacto
com os sedimentos seja real. É como que um “e se” em que não se pensa, porque
já se sabe que a atividade cerebral não leva a lado algum a não ser a um tentar
adormecer sob um manto de catos, num deserto de ideias objetivas, ideais, fundamento,
objetivo ou propósito, como queiram chamar (ou como eu queira chamar). O
tangível são, como diz o poeta, as “escoras do meu mundo movediço”. Um (meu
mundo) cada vez mais a tender para o silêncio do que para o infinito. Um
acumular de inspirações desproporcionadas face à sua reação, resultando como
que num balão cada vez mais vazio e ao mesmo tempo cheio de um gás pouco (ou
nada) nobre ou raro… uma câmara que com tanto ar não rebenta porque costuras não
tem e parece que alguém que não só não facilita a saída do ar, como que atribui
caráter lúdico a este controlo de trocas gasosas.
A noite termina, ou vai terminando à medida que o sono se
interrompe e não se consubstancia, o desassossego desagua, exala e embate de
frente com a vontade (ou vontades) de “acefalopatia ambulante”. Já não sou só
aquilo que sou, já não sou só eu e as circunstâncias… acho que cada vez mais
sou o que estou, vou estando ou conseguindo estar. Entre a limitação auto/imposta
de cogitação, valor e predisposição vou disputando o dia-a-dia com as certezas
do passado e de um presente de uma fútil utilidade de sombra na presença do
astro-mãe, entre os braços cruzados e a camisa-de-forças.
As certezas só as de um fim em si mesmo…um nada! Um ponto e vírgula
não tem o alcance de um ponto final. Respirar é preciso, difícil é fazer o
parágrafo e ter a certeza que vale a pena colocar o travessão.