Que a vida é feita de pequenos nadas, já todos o sabemos ou
vamos sabendo. Um nada aqui, um nada ali…e afinal não se passa nada e assim se
nada rumo ao mar do futuro.
Ano novo, mas a vida nova esfuma-se, esbate-se e refunde-se decalcado
com o passado num presente palmilhado a tacto, lento, “(ob)escuro”,
desnorteado, órfão de zéfiro orientador.
No começo de cada ano há a tradição das uvas passas, em
alguns casos corintos…este ano vi até a versão goma de urso. É uma tradição
matemática em número de mensais desejos. Porque o tempo é escasso, ou o é o apetite
para consumo vinícola desidratado, resume-se o conto da conta a trimestres,
estações do ano (?) ou a uma tríade seca de bagas. Aqui deixo a minha sugestão
de tal ser feito com cerejas: são como as conversas, são normalmente aos pares,
mantém-se a filosofia do fruto vermelho e, suponho eu, haverá menos lugar a
adaptações futuras.
Coincidência ou não, e cada vez acho menos que as músicas são
coincidências nos meus ouvidos ou memória, ocorre-me uma que me parece assentar
neste molde que é o início do ano que diz que a verdade é coisa enganosa e que
a vida é um doido brinquedo.
Não sei se pretendo interpretar que se deva brincar com a
vida, mas antes que é a vida é um brinquedo desmontado em que se vão juntando
as peças…a parte do doido pode ser do dono do brinquedo, da forma como se
juntam as peças ou do resultado. Enfim, a parte doida pode também estar nesta
componente meditativa, ou na demanda deste saber.
Nem sempre tudo é claro (para mim são escassas as vezes),
nem mesmo se nos fosse dado o poder (?) de escrever nas linhas definitivas, ver
o filme todo de rajada com os olhos postos no desfecho…acho mesmo aí nos
iríamos queixar do happy end… a vida
é mesmo emaranhada!
(Caríssimas canções - Sérgio Godinho com Manuela Azevedo, Nuno Rafael e Hélder Gonçalves)
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